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Vozes na Literatura

Vozes na Literatura

Apresenta-se a Literatura como uma polifonia, onde cada voz distingue-se pela sua individualidade?
O pensamento construído e apoiado nesta hipótese basilar sugere a existência de um corpus onde tudo é dependente e comparável. Ao existir a pluralidade de vozes literárias, perspectivas divergentes, a Literatura compõe-se tanto pelos textos canónicos como pelos textos marginais. A voz que agora é obliterada do seu valor, alto ou baixo, é o exemplo de que existem possibilidades de novas perspectivas fora da formatação esperada. Se a maior parte não carece de atenção e serve somente para sublinhar a importância dos livros a que foram atribuídos propriedades de Beleza Estética, de Universalidade, existem vozes que saem, misteriosamente, da margem para onde foram empurrados.
Pergunto se a fruição da Literatura, o assombro perante uma voz modificadora da realidade, não se forma através da leitura de muitos textos pouco valorizados. A identificação da qualidade não passará, obrigatoriamente, pela leitura crítica de textos considerados irrelevantes?
O medo parasita a opinião. A ignorância é tapada com as palavras dos outros. O vício de propriedade está presente no medo de quem opina. Em caso de insegurança, não se arrisca ao formar a opinião própria, com leituras atentas, mas decalca-se a opinião alheia em citações descontextualizadas. E o estatuto mantém-se… sem existir, necessariamente, a universalidade, o assombro que nos leva a perpetuar a leitura de uma obra. E o irrelevante torna-se relevante.

MR
mariorufino.textos@gmail.com

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