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Correntes d´Escritas: a primeira vez de Valério Romão

Correntes d´Escritas: a primeira vez de Valério Romão


http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=686604


O escritor Valério Romão participa pela primeira vez nas Correntes. Hoje vou entrevistá-lo. Preparar a entrevista com o autor de “Autismo” e “O-da-Joana” foi uma experiência dolorosa. Entendê-lo é mergulhar na dor. É mexer no lodo da alma. É ser violado pela angústia.

Valério Romão expôs-se à possibilidade do ridículo; exerceu o seu direito a ser ridículo. Em vez de ser apontado, ele mostrou que a dor, a liberdade, o medo, o egoísmo, a individualidade são matérias comuns a todos nós. Em vez de ser apontado, ele mostrou-nos a raíz da dor.
Valério Romão chegou. Sentou-se à minha frente. Escreve. Não sabe que o observo. Se eu lhe contasse, sentir-se-ia como uma personagem dos seus romances. Eu poderia castigá-lo como ele o faz com as suas criações. Mas o meu hipotético sadismo foi ultrapassado pelo seu masoquismo. Poucos são os autores capazes de mostrar, de forma tão aguda e funda, as profundezas lodosas da sua dor.
A primeira mesa em que participa tem, entre outros valorosos participantes, o pai de Fazal Elahi, Badini, Salim, Isa… Chegou ontem sem guarda-chuva. Afonso Cruz, Valério Romão e Patrícia Portela sentados à mesma mesa de Ivo Machado, Miguel Real e Hélder Macedo.
Faço um cinematográfico “zoom” a Valério Romão. É ele o alvo da minha atenção.
T-shirt estampada, casaco que poderia ter sido roubado a Chris Martin, dos Coldplay, cabelo… desalinhado? cCnfuso? Talvez amotinado. Barba.
O mais interessante está por dentro. Os leitores terão oportunidade de usufruir de uma visita guiada pelos meandros dos universos “valerianos”, brevemente, no Diário Digital.
Em “Palavras + Correntes = X”, Valério Romão olhou ironicamente para a Moral, afirmando “[nas Correntes] Há espaço para tudo, até para a Moral”. Enquanto os outros intervenientes difundiram a sua análise por um largo espectro proporcionado pela falácia da equação, Valério Romão incidiu a sua atenção no que não é quantificável: na vida das pessoas.
É a visão presente nos seus livros. O inquantificável é dominador. Não é o PIB que assusta, é a fome; não é a escala de Richter que assusta, é a terra a tremer.
Parece ser um autor assolado pela culpa, pela penitência e pela ironia com que se analisa e observa os outros.
Dentro das Correntes, todos os autores são um mundo, mas poucos metem tanto medo como o de Valério Romão. 

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